PENHA ALTA
Baseada em encontros gravados com um historiador, um médico, um médium e uma cozinheira, em torno das noções de fé e convicção, "Penha alta" é uma peça sonora que revela um conflito entre experiências de confiança e desconfiança.
Através da junção de fragmentos sonoros é montada uma conversa que presta atenção tanto ao conteúdo de determinada enunciação, como à forma como se enuncia.
A peça foi comissariada pelo Laboratório de Curadoria – Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012, com curadoria de Lígia Afonso e Gabriela Vaz-Pinheiro e inaugurada no Old School, em Lisboa, com a curadoria de Susana Pomba, em 2012.
Um agradecimento especial a Cacilda Coelho, Carlos Moreira, Fernando Soares, Marco Pasi, Lígia Afonso e Gabriela Vaz-Pinheiro.
Penha alta, 2012-2022
Som estéreo transferido para disco de vinil, 5’55”
Gira-discos e colunas de som sobre rochedo
Línguas: PT, EN
— To me the whole story is meant to present a kind of model.
What is behind it? Behind is precisely the realisation that many people find themselves exactly in the same situation everyday. So, if you place yourself in a religious perspective, you can anticipate the doubt will come precisely at that moment. “I have always been a good man, I have always done everything that is necessary to be a good man, I have absolved to all the duties, so why do I deserve this?”. The obvious consequence is that there is no meaning in the world — God does not exist. But, the awareness of this possibility has always been around. The possibility of thinking that God maybe is not really there is there from the beginning. If Job could go through all of this and still he remained [— Why couldn’t he reader?] Yep.
— Algum tipo de futuro é previsível. Basta que, para nós podermos conhecer o futuro, conheçamos as leis por que se rege o futuro, que é o que nos falta muitas vezes. O Homem é um macaco de imitação.
— Eu não sou uma pessoa de ir a Fátima com regularidade, como vai muita gente, de ir a santos, de visitar a igreja com regularidade, mas sou uma pessoa que tem muita fé que o futuro vai ser bom, que vai melhorar. Eu sei que estamos num período mau mas [—Mas está muito bom!], na minha maneira de ver as coisas e de ser tão positiva, eu sei que vamos melhorar, que vamos vencer e que vamos dar a volta a isto.
— E a religião é uma tentativa para explicar essas coisas. O que não tinha explicação antigamente. Só que o que acontece é que se foi verificando que, ao longo do tempo, foram surgindo explicações cada vez mais aperfeiçoadas, cada vez mais verdadeiras, cada vez mais convincentes e demonstráveis, e que as coisas tinham uma explicação em si, por si, científica, e não precisavam de meter nenhum Deus para explicar nada. Porque o Deus só ia complicar a situação.
— Well, this a form of faith also. I would make a distinction between the rhetoric and the content. So, the rhetoric is the external, literal sense of the sentence. Because he says: “Well, you can live without faith”. But that is the basic problem of atheism. When you affirm positively that God does not exist.
— Mas a Ciência ainda não provou o resto que tinha para provar. Hoje éramos para ter chuva, caiu? A semana passada partiram sete na minha rua. E quando vai um, vão seis seguidos, já foram sete. E a Ciência sabe disso?
— O facto de haver um mundo, o facto de haver o Sol todos os dias ou a chuva que nós esperamos e que não vem, ou quando há tempestades, faz-me lembrar que, se houvesse um Deus, essas coisas não aconteciam. Eu acho que toda a gente acredita em algo.
— A Humanidade progrediu até hoje, nós hoje viemos de automóvel para aqui [— Eu vim a p´e, não vim de automóvel]. Você usa uns óculos que foram inventados pelos Homens [— Por acaso vejo mal, não gosto deles]. Se calhar não estão bem adaptados [— Leio melhor sem óculos]. Está bem, mais isso é outro problema [— É um problema que foi criado pela Ciência!]! Aqueles óculos que vocês precisava que lhe corrigissem a sua visão… [— Errado, errado, errado, errado!]. Porque uma coisa é que as leis universais são universais. As leis da Física são verdadeiras aqui e numa estrela qualquer longe. Isto é uma realidade científica!
— Posso falar agora, ninguém vai interferir?! As amígdalas é uma coisa que nós temos, entende? Que faz falta. Sabe porquê? Eu estou assim sabe porquê? Você não sabe [— Eu não.]. O meu filho. Eu passei as noites todas com o meu filho no hospital e eu sou mais de hospital do que de casa. Sabe porquê? Porque o meu filo fazia uma alergia a uma coisa e os médicos era antibiótico, é não sei quê, é vou para Espanha, compro aquilo, com o antibiótico, com o dinheiro daquilo, entendeu? E eu dei ao meu filho sabe o quê? Não lhe vou dizer. O poder da mente passa à frente de tudo, certo? Sabe o que é que eu como todos os dias em jejum? Um copo de água morna e uma gota de limão. A seguir é um café, um sumo de laranja natural, depois são dois cafés, empadinhas e Heineken de Sevilha! Ao almoço são duas diárias que eu como!
— Eu acho que não tenho qualquer tipo de doença porque quando uma pessoa se dá a uma depre-…, quando tem uma dor aqui e diz que vai aumentar, se eu disser: “Não, isto amanhã já não tenho aqui”, isto vai-se embora.
— So, what’s left to us is a kind of faith which is based on what? Is based on previous experience. So, at that elementary level we all live immersed in faith and there is no difference between the atheist and the religious person, because we all live immersed in that kind of faith. And we cannot live without faith, because then we would be lost precisely in that constantly, permanently, flowing river.