LE DIPLOMATE TRANCHÉ

Baseada em encontros gravados individualmente com um redator de discursos políticos, um advogado em propriedade intelectual, uma artista que convida outros, um líder comunitário e um biólogo especializado em ciência cidadã, “Le Diplomate Tranché” é uma peça sonora que especula sobre a diplomacia e os seus lugares.

Através de um estado alucinatório que fala de uma paisagem exterior, mas também de uma paisagem psicológica, a peça presta atenção tanto ao conteúdo de determinada enunciação, como à forma como se enuncia. O resultado é um convite a entrar na psicologia de um diplomata plural, assombrado pelo governo em tempo de capitalismo avançado. 

A peça foi comissariada para a exposição “Negócios Estrangeiros / Affaires Étrangères” com curadoria de Maud Jacquin com Sébastien Pluot (Art by Translation) e Luísa Especial (AiR351), e inaugurada simultaneamente no Centro de Arte e Criatividade de Torres Vedras, sobre a mesa onde se terá assinado o armistício de 1808, após derrota das tropas francesas na Batalha do Vimeiro e nos Laboratoires d’Aubervilliers, sobre uma secretária cedida pela Embaixada de Portugal em Paris.

Um agradecimento especial a Jagna Ciuchta, Pierre-Louis Colin, Isabel Corte-Real, Mathieu Guillot, Grégoire Lois, Carlos Semedo, Maud Jacquin, Sébastien Pluot, Luísa Especial e Luís Campos e Cunha.

Le Diplomate Tranché [O Diplomata Fatiado], 2022
Som estéreo transferido para disco de vinil, 09’35”
Gira-discos e altifalantes sobre mesa de escritório ligada ao poder político

Línguas: FR, EN, PT

 

Cidadãos,
Participantes dos nossos programas: 

Morcegos, pássaros, borboletas, caracóis, plantas com flores, plantas vasculares, processos evolutivos, comportamento humano, biodiversidade.

Nós co-criamos protocolos.
Contamos com os cidadãos. 

Eu defino-me como artesão, faço cadeiras.
Uma cadeira tem que ser sólida e confortável.
Para fazer uma cadeira eu tenho que estar convencido. 

É preciso conhecer as pessoas, para poder agarrá-las.
Ninguém sabe quem eu sou.
Eu não estou a actuar. 

Esse vazio passou a ser ocupado por outros.
Eu convido-os enquanto estão vivos. 
Eu quero possuir e absorver.
Tenho fronteiras muito fluidas.
Estou constantemente à escuta.
Sou uma vampira!

Cidadãos,
Adoramos aqueles que recolhem informação.
Adoramos comunicar qualquer coisa.
Adoramos jargões. 

A mesma palavra não significa a mesma coisa.

[assobio]
Informação. Amor.
Amor. Informação. 

Estou aqui temporariamente.
Não pretendo instalar-me.
É uma jornada, uma fronteira.
Não me interessa. 

Quem és tu?

Não me interessa.

Eu sou uma vampira!

Não me interessa. 

Eu dou conselhos.
Eu assumo a responsabilidade.
É um dever! 

Não se pode contornar a realidade.
Eu adapto a minha posição ao contexto.
[assobio] 

Eu quero possuir e absorver.
Tenho fronteiras muito fluidas.
Estou constantemente à escuta.
Sou uma vampira! 

Eu faço com que as opiniões mudem.
Tens de empurrar, empurrar, empurrar, para fazer alguém cair.
Não acho que queira ser responsável por essa cadeira.
Eu não estou a actuar. 

É uma zona híbrida, entre o limpo e o sujo.
Há uma escolha que não é fácil.
O exotismo começa onde queremos que comece. 

Cidadãos:
Sem números, sem experiências, lixo!